O empresário conhecido como "príncipe das conservas" está obrigado pelo tribunal a pagar uma caução de 500 mil euros, no âmbito de um caso de burla em que foi vítima um economista, em 1996 .
O caso foi denunciado à PJ-Porto. O "príncipe das conservas" e o primo foram acusados pelo Ministério Público, em 2004, por burla agravada. Os dois foram declarados contumazes.
Após anos no estrangeiro, as autoridades só o descobriram após uma denúncia: vivia no Hotel Tivoli, em Lisboa. Foi detido em 6 Agosto do ano passado, mas não ficou preso porque as autoridades não haviam emitido mandado de detenção para prisão preventiva.
Os factos remontam a 1996 quando, através de um amigo em comum, Dinis Nazareth Fernandes aliciou o economista para um negócio que considerava fabuloso. Nada mais que uma aplicação financeira de 50 milhões de dólares, no prazo de um ano, com uma rentabilidade elevada, no Deutsche Bank de Lugano, na Suíça. Os lucros dessa aplicação reverteriam depois para uma sociedade do Panamá, a Junius Development, de que o empresário era proprietário.
Nazareth Fernandes afirmou que pretendia pedir um empréstimo ao Barclays Bank, de Inglaterra, através de um intermediário que cobrava uma comissão de 265 mil dólares (220 mil euros). Como não tinha esse montante, convenceu Eduarda Prata a emprestar o dinheiro, que por sua vez também convenceu um amigo a entrar no negócio em troca de um milhão de euros.
Foi num notário suíço que o cheque de 265 mil euros foi entregue a Dinis Nazareth Fernandes para a formalização do empréstimo, cujo prazo seria de 15 dias e apenas no caso de o negócio da aplicação financeira ser concretizado. Por verem que o tempo passava e nada era conseguido, o economista e o amigo começaram a ficar desesperados. O empresário mostrou-se então disposto a devolver o dinheiro. Convenceu-os a enviar um fax para o notário suíço a dar poderes para que os cheques fossem entregues a um seu primo. O que acabou por acontecer e Duarte Fernandes, o primo, levantou o dinheiro em notas num dos balcões do Banif, no Porto. Depois desapareceu até hoje, continuando a ser procurado pelas autoridades.
O suspeito requereu abertura de instrução alegando a prescrição do crime e um acordo para ressarcir os danos de um dos lesados, mas uma juíza do Tribunal de Instrução Criminal do Porto não o livrou de ir a julgamento e impôs-lhe uma caução de 500 mil euros. Dinis ainda não entregou o dinheiro e pediu redução do valor.
O processo judicial esteve para se iniciar na segunda semana de Maio de 2009 na terceira vara criminal do Tribunal de S. João Novo, no Porto, mas o procedimento criminal acabou por ser suspenso, depois de Nazareth Fernandes e o economista Eduardo Prata terem chegado a acordo, tendo o empresário saldado a dívida.A alcunha "príncipe das conservas" advém de ter estado ligado à indústria conserveira no Algarve, Lisboa, Matosinhos e Vila do Conde a um casamento com uma princesa e à herança do avô, Agostinho Fernandes que em 1920, fundou a firma Algarve Exportador com o objectivo de providenciar pescado e outras-matérias-primas para as indústrias de conservas de peixe, chegando a ser a maior em Portugal no seu ramo.
A sua marca própria de peixe enlatado, "Nice", torna-se uma das mais famosas no país. As actividades da empresa, além do peixe enlatado, também se estenderam ao azeite, óleos vegetais, embalagens, chocolates, bolachas, estanho, contraplacados e siderugia. Constroem-se fábricas de conservas em Lagos, Matosinhos, Nazaré, Peniche, Lisboa e Setúbal.
Em Castelo Branco, foram edificadas as fábricas de chocolates "Africana" e "Favorita"; em Vila do Conde foram construídas as refinarias "Prazol" para azeite e óleos vegetais; em Matosinhos e em Setúbal, foram construídas fábricas de farinha de peixe das marcas "Spof" e "Sadop"; também em Setúbal, foi edificada a fábrica "Yolanda", para processamento de estanho; e uma fábrica de embalagens em Matosinhos. A empresa também possuía uma comparticipação na fábrica de contraplacados "Ciam", em Alverca, na fábrica de manequins de Estrela de Faria, e na fábrica de brinquedos "Arte e Bonecos". Fundou, igualmente, a Siderurgia Nacional, em Setúbal.
Para a produção de pescado e exportação dos produtos manufacturados, a empresa também empreendeu a construção de uma frota, chegando a ter 48 embarcações, aonde laboravam 1200 trabalhadores. A empresa exportava para os Estados Unidos da América, Reino Unido, França, Suíça, Bélgica, Suécia , Filândia, Alemanha, Hungria, Polónia e Checoslováquia.
Nos finais dos anos 60, a indústria conserveira portuguesa entra em declínio, incluindo a Algarve Exportador. Em 1972, Agostinho Fernandes afasta-se da presidência da firma, entregando ao seu neto, Diniz Nazareth Fernandes, a maior parte dos seus negócios.
A firma acaba por desaparecer nos anos 80.
Nos último anos, Diniz Nazareth Fernandes não viveu em Portugal. Paris, Suíça e Nova Iorque são alguns dos locais onde terá estado.
Em 2000, e juntamente com o irmão Sérgio Nazareth Fernandes, cria no Panamá a
Fundação Agostinho Fernandes, a instituição é composta pela Portugália Editora, Portugália Brasil, Sá da Costa Editora, e as livrarias Sá da Costa e Buchholz.
Propunha-se revitalizar a editora Sá da Costa e a Portugália Editores, onde Agostinho Fernandes investiu em 1942. Para além disso, inclui no seu portefólio a Livraria Buchholz, declarada insolvente
Presentemente o grupo editorial da fundação têm deixado um rasto de dívidas entre fornecedores e trabalhadores.
A Tipografia Guerra, levou a tribunal dívidas da Sá da Costa. A distribuidora Sodilivros, também accionou processos para cobrança de dívidas da editora.
Ao designer Henrique Cayatte, que foi contactado para criar a nova imagem do grupo, ficaram a dever dinheiro.
Os colaboradores recebiam em prestações, sem direito a subsídio de férias e de Natal.
No entanto a Fundação Agostinho Fernandes insiste em comprar a editora Cavalo de Ferro "nos termos do contrato- promessa assinado", apesar da oposição dos sócios da empresa.
Como é possível dever dinheiro e ao mesmo tempo comprar uma editora", questionam.
Diniz Nazareth Fernandes assinou em 2007 um protocolo com a Câmara de Matosinhos para um projecto de construção no quarteirão da antiga Algarve Exportadora, que implica a demolição de edifícios.